Os mamíferos marinhos possuem ancestrais terrestres que, ao longo de mais de 60 milhões de anos de evolução, se adaptaram ao ambiente marinho. Assim como os seus ancestrais, também utilizam o oxigênio do ar para respirar, diferente dos peixes, que utilizam o oxigênio da água para respirar. Estes animais têm capacidade de realizar profundos mergulhos sem emergir para a superfície, para que isso seja possível existem algumas adaptações, sendo as principais a respiração e a circulação. Neste texto abordaremos as alterações respiratórias mais notáveis, que são:
Adaptações para resistir aos efeitos da compressão torácica. Para isso eles têm cartilagens e músculos mais resistentes para manter a faringe, laringe e traquéias abertas. Já os alvéolos colapsam completamente durante um mergulho, expulsando todo o ar das vias aéreas. Diferentemente dos terrestres, que sempre mantêm um pouco de ar justamente para evitar que isso ocorra, já que para nós seria danoso.
Possuem também um surfactante pulmonar, que é um líquido composto por aproximadamente 90% de lipídios insaturados e 10% de proteínas, ele age como um antiadesivo, permitindo a reabertura dos alvéolos e demais vias respiratórias. Mamíferos terrestres também possuem esse líquido, mas ele age de forma oposta, impedindo que os pulmões colapsem. Os mamíferos marinhos possuem um capilar para cada alvéolo, enquanto que os mamíferos terrestres dividem um capilar por dois alvéolos, ou seja, os alvéolos dos marinhos apresentam uma maior área de superfície.
Esses animais dispõem de um controle muito minucioso da respiração e a capacidade de utilizar todo o ar do pulmão, uma vez que eles não colapsam, tornando a respiração altamente eficiente. Usando as baleias como exemplo, a cada inalação conseguem renovar até 90% do ar dos pulmões, enquanto nós, humanos, conseguimos apenas 15%. Contam também com a frequência respiratória lenta. Em golfinhos, por exemplo, ocorre de 2 a 4 trocas gasosas por minuto, enquanto nos humanos é de 15 por minuto. Essa características traz benefícios como, menor gasto de energia com a respiração, a insuflação completa do pulmão auxilia na flutuabilidade durante a natação na superfície e no repouso, reduzindo o gasto energético, e toda esse economia de energia auxilia na conservação de calor corporal.
Além disso, são menos sensíveis a baixas concentrações de oxigênio e a altos níveis de gás carbônico que os mamíferos não aquáticos. Cada ordem pode apresentar adaptações únicas, podendo ter todas as adaptações mencionadas acima em comum, ou ainda variações entre elas. Como exemplo, as cachalotes, da ordem dos Cetáceos, podem mergulhar até 3 mil metros de profundidade e podem ficar 1 hora e meia submersas, já os peixe-boi-marinhos, da ordem Sirenia, podem mergulhar até 10 metros de profundidade e em repouso, conseguem ficar 20 minutos submersos.
As espécies estão em constante evolução e graças a isso surgem novas adaptações, permitindo que a vida continue independente do local. Com evolução da respiração, somadas às adaptações cardiovasculares e morfológicas, é possível que mamíferos mergulhadores permaneçam mais tempo submersos e mergulhem em profundidades maiores de forma segura. Podemos imaginar que daqui a algum tempo elas serão diferentes do que são hoje.
REFERÊNCIAS:
PICCINI, Aline.Adaptações Fisiológicas de Mamíferos para Mergulhos em Grandes Profundidades.Centro Universitário de Brasília,Brasília,2003. Disponível em<https://repositorio.uniceub.br/jspui/bitstream/123456789/2494/2/9971226.pdf> Acesso em agosto de 2023.
SANTIAGO, V. G., ALBUQUERQUE, E. E., Carvalho, D. S., & Soares, A. F. DIFERENÇA DA ATIVIDADE DO SURFACTANTE PULMONAR EM MAMÍFEROS MARINHOS E TERRESTRES. Disponivel em <http://www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/r0347-3.pdf>
Fundação mamíferos aquáticos. O Peixe-Boi-Marinho. Disponivel em <https://vivaopeixeboimarinho.org/o-peixeboimarinho>
Sobre a autora: Júlia Mafra, graduanda em Ciências Biológicas / Licenciatura - UFU, é apaixonada pelo mar e animais, principalmente mamíferos aquáticos.
Contato: juliamafra.minasbio@gmail.com