Primeiramente vamos entender o que é uma comunidade tradicional. O decreto Federal nº. 6.040 diz que: "Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição."
Ou seja, para os povos tradicionais os recursos naturais são parte essencial da cultura, religião e sobrevivência, eles possuem uma relação de igualdade com a natureza, compreendendo que não são uma espécie acima das outras. Como exemplo dessas comunidades tradicionais podemos citar: Quilombolas, indígenas, caiçaras, ribeirinhos, entre outros.
Na agricultura, utilizam formas sustentáveis para não prejudicarem o solo. Como é feito pelos quilombolas do Vale do Ribeira, eles escolhem um local para plantio, removem a vegetação rasteira e algumas árvores, em seguida colocam fogo para fertilizar o solo com cinzas, sempre de forma segura e controlada, e enfim é feito o plantio e tempos depois a colheita, após isso, a área é abandonada e dá espaço para a floresta se restabelecer. Essa técnica é chamada de roça de coivara, é passada de geração a geração e permite a produção de alimentos saudáveis, sem agrotóxicos e preservando a Mata Atlântica.
Além disso, pelo amplo conhecimento da natureza, possuem grande importância para conhecimento científico. O artigo "Biocultural approaches to pollinator conservation", publicado na revista Nature, mostra como essas comunidades protegem os polinizadores nas florestas, lavouras e campos. Uma das práticas citadas é a realizada pelo grupo indigena Kayapó, no Pará, que desenvolveram durante anos um complexo conhecimento sobre as abelhas, eles nomeiam todas as partes do corpo da abelha e todas as fases do seu desenvolvimento, das 56 espécies nomeadas pelo grupo, 86% correspondem exatamente ao conhecimento científico.
Ademais o conhecimento de plantas medicinais, tem origem nas comunidades tradicionais. O livro “Manual dos remédios tradicionais Yanomami”, publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Hutukara Associação Yanomami, fruto do trabalho de jovens pesquisadores Yanomami, mostram diversas plantas utilizadas para combater inúmeras doenças, entre essas plantas a Peperomia macrostachya, utilizada para tratamento da gripe e a Clathrotropis macrocarpa, a qual é utilizada para tratar coceiras provocadas por aranha caranguejeira. Para saber mais acesse a exposição online: Manual dos remédios tradicionais Yanomami.
Esses conhecimentos são passados de geração para geração, logo a sobrevivência desse povo é de extrema importância para a preservação dos ecossistemas brasileiros. Atualmente, tem sido evidenciado o genocídio do povo Yanomami, causado pelo garimpo em suas terras, porém esse não é um caso isolado, comunidades tradicionais sofrem diariamente com o descaso das lideranças políticas, que não respeitam os limites de seus territórios e negam condições básicas para a sobrevivência dos povos tradicionais. Portanto, devemos conhecer essas comunidades para entendermos a importância do trabalho que elas fazem para preservação do meio ambiente e dessa forma cobrar medidas para a conservação dos povos e comunidades tradicionais.
Para terminar vou deixar a fala de um líder político dos Yanomamis:
“Os brancos pensam que a floresta foi posta sobre o solo sem qualquer razão de ser, como se estivesse morta. Isso não é verdade. Ela só é silenciosa porque os espíritos xapiripë detêm os entes maléficos e a raiva dos seres da tempestade. Se a floresta fosse morta, as árvores não teriam folhas brilhantes. Tampouco se veria água na terra. Nossa floresta é viva, e se os brancos nos fizerem desaparecer para desmatá-la e morar em nosso lugar, ficarão pobres e acabarão sofrendo de fome e sede.” – Davi Kopenawa Yanomami.
REFERÊNCIAS:
Manual de remédios tradicionais Yanomami. 2016. Disponível em: <https://artsandculture.google.com/story/JAXRKSOfv6hOJA?hl=pt-BR> Acesso em: 12 de Mar. de 2023.
ROMAN,Clara.Tá Na Hora da Roça: campanha pede respeito ao plantio tradicional quilombola. 2018. Disponível em: <https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/ta-na-hora-da-roca-campanha-pede-respeito-ao-plantio-tradicional-quilombola> Acesso em: 12 de Mar. de 2023.
Comunidades ou Populações Tradicionais. 2018. Disponível em: <http://www.ecobrasil.eco.br/noticias-rodape/1272-comunidades-ou-populacoes-tradicionais> Acesso em: 12 de Mar. de 2023.
LIMA, Ana Laura. Comunidades tradicionais contribuem para o meio ambiente global. 2019. Disponível em: <https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/42060948/comunidades-tradicionais-contribuem-para-o-meio-ambiente-global#:~:text=Os%20pesquisadores%20identificaram%20que%20as,e%20na%20conserva%C3%A7%C3%A3o%20das%20florestas> Acesso em: 12 de Mar. de 2023.
Os Yanomami. Disponível em: <https://survivalbrasil.org/povos/yanomami> Acesso em: 12 de Mar. 2023.
Sobre a autora: Jordanny Luiza Sousa Santos. Graduanda em Ciências Biológicas/Bacharelado - UFU. Apaixonada pela biologia e todas as formas de vida.
Contato: jordanny.minasbio@gmail.com